quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS (ano B)


Leitura do Livro dos Números
(Num 6,22-27)
O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)
Refrão: Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção.

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os seus caminhos
e entre os povos a sua salvação.

Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra.

Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu temor aos confins da terra.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
(Gal 4,4-7)
Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abbá! Pai!» Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 2,16-21)
Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.


BOA NOTÍCIA
Contempl(ação)
No próximo domingo, dia 1 de Janeiro, a liturgia coloca-nos diante de diversas evocações. Celebra-se, em primeiro lugar, a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus: somos convidados a contemplar a figura de Maria, aquela mulher que, com o seu “sim” ao projecto de Deus, ofereceu ao mundo Jesus, o Verbo incarnado. Celebra-se, também, o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI propôs aos homens de boa vontade que, neste dia, se rezasse pela paz no mundo. Celebra-se, finalmente, o primeiro dia do ano civil: é o início de uma nova “maratona” de doze meses, que esperamos nos reserve saúde, paz, trabalho e alegria.

O evangelho que escutaremos na missa é a continuação daquele que foi lido na noite de Natal, quando após o anúncio do “anjo do Senhor”, os pastores se dirigiram a Belém e encontraram o menino, deitado numa manjedoura. É uma página que nos descreve o entusiasmo com que os pastores contavam o que lhes tinham anunciado sobre aquela criança. Uma alegria barulhenta que contrasta com o silêncio de Maria que «conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração».

É neste anúncio alegre e sonoro dos pastores e no silêncio meditativo de Maria que encontramos as duas coordenadas essenciais que devem definir a existência de todos os crentes: anúncio e meditação; ação e contemplação. Pois não há contemplação que não se transforme em testemunho e nem anúncio autêntico que não provenha da oração e meditação silenciosa. Afirmar uma oposição entre vida ativa e vida contemplativa, entre prática e contemplação é negar a tradição espiritual do cristianismo. São dois termos e duas atitudes de vida, inseparáveis. Pela contemplação, a alma alimenta-se; pelo apostolado, dá-se! Oxalá o novo ano nos encontre fortes nestas duas práticas!

Feliz Ano Novo!

P. Carlos Caetano



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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NATAL DO SENHOR - MISSA DA MEIA-NOITE (ano B)



Leitura do Livro de Isaías
(Is 9,1-6)
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor. Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)
Refrão: Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor.

Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas.

Alegrem-se os céus, exulte a terra,
ressoe o mar e tudo o que ele contém,
exultem os campos e quanto neles existe,
alegrem-se as árvores das florestas.

Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra:
Julgará o mundo com justiça
e os povos com fidelidade.


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Tito
(Tito 2,1-14)
Caríssimo: manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 2,1-14)
Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este primeiro recenseamento efectuou-se quando Quirino era governador da Síria. Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».


BOA NOTÍCIA
Hoje nasceu o nosso salvador
É uma página de evangelho bem conhecida a que encontramos, nas primeiras horas do próximo domingo, na liturgia da Missa da noite, também conhecida como Missa do galo. O Reino de Deus, que mais tarde será anunciado tantas vezes por Jesus Cristo, ganha neste texto uma referência territorial bem concreta. É-nos indicada a cidade e até a “casa real” onde nasce o Príncipe dos príncipes: em Belém, num estábulo escavado numa gruta. Mil anos após o nascimento do rei David, esta pequena cidade da Cisjordânia vê nascer um outro soberano: Jesus Cristo, o “rei” do Reino dos céus.

A descrição daquela noite santa, comove e encanta gerações de fiéis em todo o mundo, desde há quase dois mil anos. No entanto, junto com os vários elementos de luz e de paz que descrevem o nascimento do Salvador, encontramos também uma “sombra” que nos recorda a dificuldade que o mundo teve, desde o início, em aceitar Jesus Cristo: «[sua mãe] envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria». É uma frase que nos recorda o misto de alegria e tristeza que José certamente sentiu naquela noite: junto à comoção por uma criança recém-nascida, convivia a dura realidade de uma jovem mãe obrigada a deitar-se nas palhas de um estábulo.

Mas não se trata apenas de um episódio de outros tempos. O cântico de aleluia que escutaremos na santa missa, recorda-nos com o seu refrão que «hoje nasceu o nosso salvador». Hoje ele bate à nossa porta e pede licença para entrar! Hoje ele faz-se homem e anuncia ao mundo o Seu reino! Vinde irmãos e irmãs! Vinde e louvai o Senhor!


P. Carlos Caetano

in LusoJornal 21.12.2011



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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

4° DOMINGO DO ADVENTO (ano B)



Leitura do Segundo Livro de Samuel
(2 Sam 7,1-5.8b-12.14a.16)
Quando David já morava em sua casa e o Senhor lhe deu tréguas de todos os inimigos que o rodeavam, o rei disse ao profeta Natã: «Como vês, eu moro numa casa de cedro, e a arca de Deus está debaixo de uma tenda». Natã respondeu ao rei: «Faz o que te pede o teu coração, porque o Senhor está contigo». Nessa mesma noite, o Senhor falou a Natã, dizendo: «Vai dizer ao meu servo David: Assim fala o Senhor: Pensas edificar um palácio para Eu habitar? Tirei-te das pastagens onde guardavas os rebanhos, para seres o chefe do meu povo de Israel. Estive contigo em toda a parte por onde andaste e exterminei diante de ti todos os teus inimigos. Dar-te-ei um nome tão ilustre como o nome dos grandes da terra. Prepararei um lugar para o meu povo de Israel: e nele o instalarei para que habite nesse lugar, sem que jamais tenha receio e sem que os perversos tornem a oprimi-lo como outrora, quando Eu constituía juízes no meu povo de Israel. Farei que vivas seguro de todos os teus inimigos. O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. Quando chegares ao termo dos teus dias e fores repousar com teus pais estabelecerei em teu lugar um descendente que há-de nascer de ti e consolidarei a tua realeza. Ele construirá um palácio ao meu nome e Eu consolidarei para sempre o teu trono real. Serei para ele um pai e ele será para Mim um filho. A tua casa e o teu reino permanecerão diante de Mim eternamente e o teu trono será firme para sempre.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 88 (89)
Refrão: Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor.

Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor
e para sempre proclamarei a sua fidelidade.
Vós dissestes: «A bondade está estabelecida para sempre»,
no céu permanece firme a vossa fidelidade.

«Concluí uma aliança com o meu eleito,
fiz um juramento a David meu servo:
‘Conservarei a tua descendência para sempre,
estabelecerei o teu trono por todas as gerações’».

«Ele Me invocará: ‘Vós sois meu Pai,
meu Deus, meu Salvador’.
Assegurar-lhe-ei para sempre o meu favor,
a minha aliança com ele será irrevogável».


Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
(Rom 16,25-27)
Irmãos: Àquele que tem o poder de vos confirmar, segundo o meu Evangelho e a pregação de Jesus Cristo – a revelação do mistério encoberto desde os tempos eternos mas agora manifestado e dado a conhecer a todos os povos pelas escrituras dos Profetas segundo a ordem do Deus eterno, dado a conhecer a todos os gentios para que eles obedeçam à fé – a Deus, o único sábio, por Jesus Cristo, seja dada glória pelos séculos dos séculos. Amen.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 1,26-38)
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».


BOA NOTÍCIA
«Não temas!»
O Natal está quase à porta e no próximo domingo, dia 18, a liturgia propõe-nos o famoso episódio da Anunciação. Numa pequena aldeia da Galileia, chamada Nazaré, uma jovem de nome Maria é visitada por um anjo, que lhe anuncia: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus».

A expressão “não temas” que abre o discurso do anjo é certamente uma das mais comuns na Sagrada Escritura. Encontramo-la em quase todos os livros da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse, e normalmente antecede os convites que Deus propõe aos homens. “Não temas” é como um refrão que percorre toda a história da salvação e que encontramos quase dois mil anos mais tarde (em 1978), nas primeiras palavras do recém-eleito Papa João Paulo II. Este convite à coragem (se bem que no plural: “não tenhais medo”) torna-se a “bandeira” do Santo Padre durante os seus 26 anos de pontificado e recorda-nos uma realidade que transparece tão claramente na história de Maria de Nazaré: é graças à nossa coragem e generosidade que Deus manifesta o seu amor no mundo. É através do nosso “sim” ao Seu projecto, dos nossos gestos de caridade, de partilha e de serviço, que Deus Se torna presente e transforma, aos poucos, a nossa realidade. Neste domingo que antecede o Natal de Jesus, a história de Maria mostra-nos como é possível, também hoje, revelarmos Jesus ao mundo: através de um “sim” corajoso aos projectos de Deus.

Não tenhais medo: dizei “sim”! Abri as portas a Cristo!



P. Carlos Caetano

in LusoJornal 14.12.2011



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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

3º DOMINGO DO ADVENTO (ano B)



Leitura do Livro de Isaías
(Is 61,1-2a.10-11)
O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor. Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e em envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações.


SALMO RESPONSORIAL – Lc 1, 46-48.49-50.53-54
Refrão: Exulto de alegria no Senhor.

A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
porque pôs os olhos na humildade da sua serva:
de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.

O Todo-poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que O temem.

Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu-os de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
(1 Tes 5,16-24)
Irmãos: Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. É fiel Aquele que vos chama e cumprirá as suas promessas.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 1,6-8.19-28)
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem: «Quem és tu?» Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou: «Eu não sou o Messias». Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?» «Não sou», respondeu ele. «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não». Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías». Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram: «Então, porque baptizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.


BOA NOTÍCIA
«Quem és tu?»
Na semana passada o evangelho apresentou-nos brevemente esse homem extraordinário que foi S. João Baptista. O impacto que esta figura singular provocou nas gentes do seu tempo foi tão grande, que alguns suspeitaram, logo desde o início da sua pregação, se não seria ele o messias esperado. Após o martírio, a fama do Baptista aumentou incrivelmente. A história do profeta corajoso e temerário, cujo terrível destino seria selado tragicamente pela vaidade de Herodes e o dançar de Salomé, fascinou muitos israelitas e surgiram numerosos grupos e movimentos espirituais que se inspiraram na sua pregação de conversão e arrependimento. Ainda hoje no Iraque, a seita dos mandeístas venera-o como messias e pratica o ritual do baptismo segundo a sua tradição.

Foram estes equívocos que levaram os quatro evangelistas a dedicar tanto espaço ao esclarecimento da identidade de João Baptista. O evangelho do próximo domingo, dia 11, é novamente centrado na sua figura e descreve-nos um episódio em que um grupo de sacerdotes e levitas lhe coloca três vezes a mesma pergunta: «Quem és tu?». Todas as respostas evitam qualquer afirmação que possa atrair a atenção sobre si. Ele não é o messias, não é Elias e não é o Profeta. Ele é «a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor». João dá testemunho da luz, mas não é a luz. Ele é “somente” a voz que anuncia a Palavra de Deus. Mas qual Palavra? Quem é o verbo incarnado? Onde está a luz do mundo? A “voz” convida-nos a olhar para Jesus Cristo e responde com confiança: «Eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus».


P. Carlos Caetano

in LusoJornal 07.12.2011


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